Do acaso puxo linhas.
Cai desfiado em fiapos
E tirinhas.
Vai ao chão todo o acaso
Ao revelar desenho
De tapete bem bordado.
Torço o cenho:
Tem sentido e foi pensado...
Não é mais acaso
O traço bem pintado.
É história bem contada,
Começo, meio e fim.
De sentido não é mais escasso
Mesmo assim, o olho o vê embaraçado.
Agora, com a linha já puxada,
Teço outra vez
Prosaica arte emaranhada
A revelar tanta história em mudez
E tais antigas linhas sem sentido
– Ao exame dos meus dedos
Agora é risco definido.
Cai ao chão todo o acaso
Quando o fio é mais que laço
Indumentário e adorno
Mas, pincel do invisível
A dar sentido,
Do infinito ao tenro choro.
E o acaso é falsário,
De verdade rara e para os poucos
A tecerem com os dedos
Os divinos sopros.
Mariana Melo
3 comentários:
Um dos poemas mais bonitos que eu já li. Parabéns. "De verdade rara e para os poucos". Li e reli algumas vezes.
muito belo o poema mary!
gratz!!
Belíssimo poema, expressão da verdade e da beleza. Parabéns!
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