segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

The Naked Thought






The pure sound flows
From the childish heart
It grows,
Without clothes or mask.

When the brand approaches
The iron goes cold  
Nothing can't melt its laces
Even when someone
With fists attached so told.

Because the chaste pure thought
Can't bear any ashes.

The naked thought stay
Calm. Has no fear or need
No claims for someone to say
“here is a blanket warm”

It’s the whole in its littleness
It’s the adult finding
Answers in its own hiding
Innocent bareness.


Mariana M.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Emurecer



Acontece que vez por outra Tom Camplot se dava a conversar com árvores, mais especificamente ciprestes, mais especificamente Arthô, o mais antigo dos ciprestes plantados na parte do jardim real em que as pessoas da cidade podiam freqüentar.
E naquele dia uma coruja magra anteviu o tamanho da conversa e se aconchegou sob as asas para embarcar num bom cochilo.
- sabe Arth, não entendo a falta de sede dos pés das pessoas que ficam na cidade para sempre – indagou Tom, numa indignidade serena, meio revoltado meio sonhador, domado pela imaginação lúdica sobre o que poderia encontrar fora da aldeia – Com tanta montanha emurecendo* os bairros, como não ter sede de ver o que está além?
- ah, meu jovem, acontece que nem todos os homens já se deram conta de que são homens e não árvores. Muitos ainda acordam e maldizem os próprios pés por serem obrigados a marchar, desejando mesmo é ter raízes... – a árvore, sentindo uma comichão nas próprias raízes ao dizer a última frase, fez tremer de leve a terra abaixo de si, acordando a coruja com um pio frustrado.
- e o que são os homens que maldizem as raízes querendo mesmo é voar? – aqui, o pensamento do garoto voou para a trouxa amarrada num galho escondida sob sua cama, junto com um cantil de couro e um mapa roto do oeste das Terras Ermas.
- esses têm um pouco de ave dentro deles, já entenderam que raízes são para os que não aprenderam a andar e descobriram dentro de si algo que veio de muito longe e agora quer voltar. – de vez em quando os galhos mais altos de Arthô se arranjavam de molde a parecerem olhos, e naquela altura da conversa esses galhos analisavam o garoto com uma desconfiança acertada de que o mais jovens dos Camplots era um homem ave.
- isso quer dizer que de alguma forma esses homens já estiveram nos lugares que hoje só aparecem em sonhos? – com isso, seus olhos nas nuvens desceram ao chão como um raio e sentou-se de um salto ao lembrar-se da noite anterior em que seu sono fora palco de um duelo etéreo com dragões de vento – mas isso seria impossível! Minha família não deixa a cidade há três décadas!
- hohoho o que te faz pensar que algures dos sonhos são mais impossíveis do que o mundo concreto da feira de domingo? Não deixe que seus pensamentos também criem raízes, meu bom rapaz. – com um de seus galhos mais perto do chão conduziu as costas do garoto de volta à grama – se queres chamar alguma coisa de impossível, chame os sapatos de cetim lilás do rei de impossíveis, não os sonhos!
- você tem razão, esses são impossíveis... – com um rizinho contido Tom  voltou a contemplar o desenho dos galhos do Cipreste sob o céu claro, reunindo coragem para perguntar o que há muito lhe atormentava: Arth, o que encontrarei lá fora tem a ver com meus sonhos?
...

*Do neoverbo “emurecer” – colocar muros; cercar de muros; construir muros ao redor.