quinta-feira, 24 de junho de 2010

Mais Sobre o Nome


Tom Camplot

Algo curioso é o fato de que apenas de uns tempos para cá os cadernos tenham se tornado objetos mais populares dentro das histórias. Ainda que tenham aparecido com o nome de diários ou bloco de notas, há de se notar que foi um marco evolutivo os contadores de histórias recitarem com mais freqüência os cadernos entre suas personagens.

Conta-se que quando os cadernos não eram da forma como se conhece hoje, as pessoas escreviam na areia, na terra ou em blocos de pedra – dependendo da duração desejada de suas mensagens.

Conta-se que Tom Camplot colocou as mãos em certo Caderno, cujas bordas das páginas eram preenchidas por desenhos que o levou a pensar uma ou duas vezes que o desenhista havia confundido as páginas de papel com chão de areia ou blocos de pedra, tamanha a imprecisão dos rabiscos.

As palavras, porém, eram bastante claras, ainda que em vários trechos descrevessem passagens de um tempo nublado.

Muitos lhe perguntaram se aquilo não seria o famoso Livro de Quartzo, ao que Tom respondia de pronto que não . Porque nos livros estão impressas ou uma história ou uma opinião, ao contrário de cadernos, que expressam o puro pensamento - aprisionado em tinta, mas ainda assim, puro. Era o caso daquele caderno. E o pensamento ali contido era da espécie imaginação, ou seja, muito melhor compreendido em sonhos do que em uma mesa de estudos.

Tom Camplot tinha a capacidade de sonhar sem perder os sentidos. Ele podia recitar páginas do caderno como se fossem poemas e compreender os rabiscos como se fossem filmes fáceis.

Talvez tenha sido a viagem na qual topou com o Caderno que lhe tenha conferido este dom. Mas o mais certo é que logo ao nascer tenha aprendido os primeiros princípios da arte de sonhar sem perder os sentidos.

***

Durante os sonhos o estalar de dedos dura muito tempo e andar com os pés no chão é algo tão obsoleto quanto engatinhar em câmera lenta. Falar é tão letárgico quanto bocejar e viajar de trem, nos sonhos, é mais demorado que ir a pé.

Uma coisa, contudo, era a mesma tanto nos sonhos quanto quando se está acordado: as coisas da natureza. E foi aí que Tom descobriu a ponte entre os sonhos e a vida de olhos abertos, aprendeu, então, a sonhar sem perder os sentidos.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Por Que Esse Nome?



Bom, este post explica bastante o nome do blog, que é uma homenagem a uma personagem de estória.


Tom Camplot
Lá onde Tom morava não havia muitas pessoas. As poucas se pareciam muito com as pedras e com os cães, de forma que para conversar sobre temas profundos, planejar viagens pelas terras ermas e especular a origem do vento o melhor era entrar em contato com os tigres ou com ciprestes, que guardam histórias desde o início dos tempos. Por isto, talvez, as conversas mais longas das quais Tom participava era com as árvores, sobretudo aquelas das quais pendiam frutas. Tom trocava de amigos de conversa conforme as estações, migrando de sombra em sombra, dependendo do que tinham a oferecer em seus galhos. Ainda não havia se animado a entrevistar nenhum tigre.

As árvores tinham sempre um humor de alto nível e faziam Tom rolar no chão de tantas gargalhadas, quando imitavam as lêmures do Sul. Outro número digno de risos era quando as árvores com cipós faziam os fanfarrões de volta da taverna tropeçarem no invisível e correrem para capela. Enfim, era uma amizade forte e que existia desde que Tom conseguia se lembrar, e segundo se lembrava havia começado assim:

Quando estava aprendendo a andar, sua mãe lhe levara a um piquenique em algures da parte do jardim real onde as pessoas da cidade podiam freqüentar.

Sua mãe era florista e possuía uma banca na feira de domingo, que ficava ao lado da banca de verduras – o que definitivamente não agradava aos nobres crisântemos, que precisavam suportar a conversa fiada das alfaces. O fato é que esta profissão também acabou conferindo a Artemis Camplot uma amizade bastante tenaz com as plantas, o que também lhe conferiu uma inimizade com as pedras e com algumas pessoas.

Além de ser amiga das plantas, Artemis confiava bastante nelas, a ponto de designar a tarefa de guiar os primeiros passos do filho a um cipreste - que apesar de não oferecer nenhum fruto doce tornar-se-ia grande amigo de Tom. Assim, a árvore chamada Arthô fez um duplo nó em ambos os pequenos pulsos do bebê, tocando-o ao redor do próprio tronco. À medida que o mais jovem dos Camplots dava os primeiros passos de tantos passos que o carregariam duas vezes ao redor do mundo – que não era da forma como se conhece hoje – Arthô praguejava sobre mães aéreas que lhe faziam descer do pedestal que era ser um cipreste à baixeza que era cuidar de uma pequena fábrica de odores.

Talvez por causa dos palavrões em árvoreo que Tom tenha aprendido a andar tão depressa, mas o mais certo é que isso aconteceu por causa da viagem na qual encontrou o Caderno das Escrituras Ermas – nessa viagem Tom não se dispôs de carruagens e tampouco alazões, de sorte que de hora em hora precisou ter sérias conversas de estímulo com os próprios sapatos.

Sapatos e árvores, seus mais freqüentes interlocutores.

Foi numa manhã cinza que decidiu ter a primeira conversa com seus sapatos. Disse-lhes que “hoje eles não se colocariam para o ar”. Teve também uma breve conversa com seus ombros mirrados, dizendo-lhes que eles não iriam descansar. Contudo, ao termo de três dias todas as suas provisões se acabaram e, por fim, seus ombros descansaram e começaram a zombar de seus pés. A estrada não acabaria tão cedo.

Primeiro


Olá a todos!


Este primeiro post é um falso primeiro post, porque vem de seis anos de postagens em um outro blog. Só que esse blog resolveu se aposentar, colocar o arquivo de crônicas e parágrafos poéticos em uma mochila rota e ir ver o mundo. Vez por outra receberemos um postal de onde o antigo blog estiver...
E, se o conheço bem, em sua viagem ele fará algumas visitas aos próprios arquivos, de modo que teremos chance de rever antigos textos, ou textos novos sobre antigos lugares.

Abraços :)