segunda-feira, 21 de junho de 2010

Por Que Esse Nome?



Bom, este post explica bastante o nome do blog, que é uma homenagem a uma personagem de estória.


Tom Camplot
Lá onde Tom morava não havia muitas pessoas. As poucas se pareciam muito com as pedras e com os cães, de forma que para conversar sobre temas profundos, planejar viagens pelas terras ermas e especular a origem do vento o melhor era entrar em contato com os tigres ou com ciprestes, que guardam histórias desde o início dos tempos. Por isto, talvez, as conversas mais longas das quais Tom participava era com as árvores, sobretudo aquelas das quais pendiam frutas. Tom trocava de amigos de conversa conforme as estações, migrando de sombra em sombra, dependendo do que tinham a oferecer em seus galhos. Ainda não havia se animado a entrevistar nenhum tigre.

As árvores tinham sempre um humor de alto nível e faziam Tom rolar no chão de tantas gargalhadas, quando imitavam as lêmures do Sul. Outro número digno de risos era quando as árvores com cipós faziam os fanfarrões de volta da taverna tropeçarem no invisível e correrem para capela. Enfim, era uma amizade forte e que existia desde que Tom conseguia se lembrar, e segundo se lembrava havia começado assim:

Quando estava aprendendo a andar, sua mãe lhe levara a um piquenique em algures da parte do jardim real onde as pessoas da cidade podiam freqüentar.

Sua mãe era florista e possuía uma banca na feira de domingo, que ficava ao lado da banca de verduras – o que definitivamente não agradava aos nobres crisântemos, que precisavam suportar a conversa fiada das alfaces. O fato é que esta profissão também acabou conferindo a Artemis Camplot uma amizade bastante tenaz com as plantas, o que também lhe conferiu uma inimizade com as pedras e com algumas pessoas.

Além de ser amiga das plantas, Artemis confiava bastante nelas, a ponto de designar a tarefa de guiar os primeiros passos do filho a um cipreste - que apesar de não oferecer nenhum fruto doce tornar-se-ia grande amigo de Tom. Assim, a árvore chamada Arthô fez um duplo nó em ambos os pequenos pulsos do bebê, tocando-o ao redor do próprio tronco. À medida que o mais jovem dos Camplots dava os primeiros passos de tantos passos que o carregariam duas vezes ao redor do mundo – que não era da forma como se conhece hoje – Arthô praguejava sobre mães aéreas que lhe faziam descer do pedestal que era ser um cipreste à baixeza que era cuidar de uma pequena fábrica de odores.

Talvez por causa dos palavrões em árvoreo que Tom tenha aprendido a andar tão depressa, mas o mais certo é que isso aconteceu por causa da viagem na qual encontrou o Caderno das Escrituras Ermas – nessa viagem Tom não se dispôs de carruagens e tampouco alazões, de sorte que de hora em hora precisou ter sérias conversas de estímulo com os próprios sapatos.

Sapatos e árvores, seus mais freqüentes interlocutores.

Foi numa manhã cinza que decidiu ter a primeira conversa com seus sapatos. Disse-lhes que “hoje eles não se colocariam para o ar”. Teve também uma breve conversa com seus ombros mirrados, dizendo-lhes que eles não iriam descansar. Contudo, ao termo de três dias todas as suas provisões se acabaram e, por fim, seus ombros descansaram e começaram a zombar de seus pés. A estrada não acabaria tão cedo.

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