domingo, 20 de agosto de 2023

PULSO


Por que inventaram teu sorriso?
Não bastassem os olhos da tua alma
Que fizeram do meu peito abismo
Para que também teu riso que avassala?

Por que forjaram-se tuas mãos?
Se suficiente tua aura e encanto
Ao longe, a tocar-me apenas pelo vento
Para que o tato, se tua voz escondia o não?

Por que do encontro?
Se em paz estava contigo apenas em sonho
E o desfecho seria o desencontro
Para que me tirar a calma e sobretudo o sono?

Ora, de que vale coração inteiro
Quando é pela fresta que se entra a luz
E se é pela queima que se acende o candeeiro?

Ora, de que vale alma intacta
Quando dilacerada se refaz das cinzas
E quando refeita é invicta?

Ora, de que vale pele impávida
Quando o sopro é quem lhe dá o pulso
E pulsando recobra a vida havida?

Pois prefiro a calmaria
Do chão firme e das raízes

A certeza da paz, ainda que fria
Ao calor das incertezas algozes 

Prefiro o abrigo de um ninho alto
De onde voar e sobretudo aterrizar

Prefiro amar sem nenhum salto

Prefiro o pouso,

Ao pulso