sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Primavera






Cá onde moro as estações não avisam quando vão chegar e tampouco quando vão embora. O costume é passarem à francesa, tão desapercebidas entre dias serenos de pouco vento e pouca proeza.
Perceber as estações por aqui é um cargo da imaginação – apenas ela para plantar neve ou flores no topo do chão comum dos dias neutros.
Este ano, porém, algo aconteceu e aqui onde moro o marasmo saldou setembro, escapando da deriva lenta do ocaso, chegou cheio de jardins e canção em seu enlaço. Esfreguei os olhos: teria a imaginação aprimorado?
Pouco provável. Quiçá meus olhos antes tão fechados tenham aberto fresta para a Primavera.
Descobri que aqui, onde moram meus botões, a paisagem lê pensamentos e os copia, plasmando-os entre céu e campos na mais sortida imitação. E dos dias amenos tudo que resta são umas magras idéias que não me deixam.
E da calmaria de estações tudo o que vejo agora é paisagem em mutações. Cada solstício é precedido por lacaio e trompetes, anunciando verão, outono, primavera, inverno, discorrendo sua chegada, seus caprichos e abrindo alas.
E a primavera... Ah! Esta jamais passa à paisana. Traz verso, prosa e poesia. Vestida em sorridente litania.
Cá onde mora o pensamento cada estação é instrumento e do eterno outono em lamento, nesta primavera sou maestro e sentimento.

3 comentários:

João disse...

E você continua passando essa coisa de quem tem uma intimidade gigantesca com as palavras, enquanto a maioria de nós apenas conhece de vista e encontra com elas de vez em quando.

Ulisses Vasconcellos disse...

Olá.

Vim retribuir a visita e conhecer seu mundo virtual.

Parabéns, você escreve muito! Voltarei aqui.

E o Issoqueeufalei está sempre às ordens.

tony disse...

Na primeira frase me veio um "puutz ela mora em Curitiba", mas são lapsos da falta de noção que nos abraça com carinho diariamente.

Noção que sobra no clima, tão seu, que consegue criar com as palavras.

ótimos dias pra ti!