sexta-feira, 8 de abril de 2011

Que Acaso



Do acaso puxo linhas.
Cai desfiado em fiapos
E tirinhas.

Vai ao chão todo o acaso
Ao revelar desenho 
De tapete bem bordado.

Torço o cenho: 
Tem sentido e foi pensado...
Não é mais acaso
O traço bem pintado.

É história bem contada,
Começo, meio e fim.
De sentido não é mais escasso
Mesmo assim, o olho o vê embaraçado.

Agora, com a linha já puxada,
Teço outra vez
Prosaica arte emaranhada
A revelar tanta história em mudez

E tais antigas linhas sem sentido
  – Ao exame dos meus dedos 
Agora é risco definido.

Cai ao chão todo o acaso
Quando o fio é mais que laço 
Indumentário e adorno

Mas, pincel do invisível
A dar sentido,
 Do infinito ao tenro choro.

E o acaso é falsário,
De verdade rara e para os poucos
A tecerem com os dedos
Os divinos sopros.


Mariana Melo

3 comentários:

Maoli disse...

Um dos poemas mais bonitos que eu já li. Parabéns. "De verdade rara e para os poucos". Li e reli algumas vezes.

Juka disse...

muito belo o poema mary!
gratz!!

Marial disse...

Belíssimo poema, expressão da verdade e da beleza. Parabéns!