domingo, 7 de agosto de 2022

Pôr do Sol

 Recentemente conheci alguém muito especial e imediatamente encontramos um ponto de conexão: a paixão em comum por pores do sol. E quem não os ama? O menos romântico leitor perguntaria… Bem, não era uma paixão leviana e sim, de fato, um apreço especial por esta pintura desprovida de defeitos que todos os dias agracia o olhar de quem volta pra casa após um dia peculiarmente cansado.


Não há artista que se canse de retratá-lo, não há poeta que resista a verter versos à luz e sombra que apenas um Por do Sol pode provocar no papel. Não há lente que não abra alas ao reflexo produzido na hora dourada.


Portanto, estabelecido está que a admiração, quase uma reverência, que tínhamos pelo pôr do sol ultrapassava a mera afinidade superficial.


E assim, o novelo de um singelo conto desenrolou-se a cada raio de luz às 17h30. Trocávamos, inclusive, análises individuais sobre determinada nuvem ou têmpera de ar formada nos diferentes locais de observação onde por ventura estivéssemos naquele dia.


Foi, também, ao pôr do sol que pude contemplar camadas perigosamente profundas e claras naquele olhar que a qualquer instante arrebataria meus pensamentos em praticamente todas as outras horas do dia e não mais apenas ao entardecer.


Finalmente, toda pequena história escrita em qualquer lugar que não seja nas estrelas, chegou ao seu fim. Ora, escolhemos justamente o “fim” do dia para entoar nossa canção. Absolutamente esperado que seu refrão não se repetisse mais que uma vez, que as notas eleitas não passassem de duas só, que não estivesse entre as primeiras mais tocadas, que se viva seria cantada absolutamente por ninguém outra que Nico.


E quando se dissolveu docemente o último diálogo, o último entrelaçar de dedos, o último café, o último sorriso, o último olhar, a última música, o último pedaço do bolo de canela, o último partilhar de qualquer dor que persistia no peito. O último abraço… Vi-me sozinha com o pôr do sol.


Se eu pudesse só naquele dia apagá-lo! Cada pincelada de laranja, amarelo, branco e azul zombavam de mim. Nem mesmo as cortinas dos olhos conseguiram calar aquele brilho enfadonho e pela primeira vez achei-o feio, ainda que especialmente naquele dia tons de rosa estivessem lá também.


E assim, em nenhum dos dias subsequentes meu pesar foi respeitado pelo céu. Foi como se o horizonte não houvesse percebido o que passava uma de suas filhas. Que ultraje! Ao cabo de uma semana vi-me em uma encruzilhada: declarar ódio à hora que me abraçara por toda a vida ou deixar-me envolver por ela ainda mais.


Senti-me naquele poema sobre asas que envolvem com uma espada oculta em sua plumagem*, pois escolhi deixar-me conduzir pela dor e pelo sumblime que há em uma pétala que cai, em uma gota que evapora, em um pássaro que voa. Um sol que se põe…


Se possível, o por do sol ficou apenas mais belo após uma das crônicas mais lindas que já vivi.



*"Do Amor" - Khalil Gibram.






6 comentários:

Anônimo disse...

Afeto e lágrimas aqui 🥺💕

Anônimo disse...

Lindo... 🥰🥰🥰

Anônimo disse...

😢♥️

Anônimo disse...

Tão sensível.... Transformar o fim em poesia não é para qualquer pessoa ❤️

Anônimo disse...

Que coisa mais linda 😍❤

Jayfferson A. Rodrigues disse...

Quanta sensibilidade. Don't you ever stop blogging again.